Conheça a Aula de Futebol, um projeto que une história ao esporte mais famoso do mundo

16 04 2012

Atividade idealizada por professores de história torna a matéria muito melhor de se aprender

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Por Caio Martins

Para muitos estudantes, estudar história nem sempre é tão atrativo. Aliás, muitas vezes é realmente cansativo. Entretanto, dois professores que lecionam essa matéria tiveram uma excelente ideia de como facilitar o aprendizado e motivar os alunos a olharem história com outros olhos.

Os historiadores e professores Dimas Fernandes Vieira Júnior e Leandro Sapiensa Galvão idealizaram e elaboraram uma atividade chamada de “A Aula de Futebol”, que usa o futebol como meio de contextualizar os períodos e acontecimentos que são ensinados na escola.

A aula, que foi aplicada pela primeira vez no Colégio Atibaia, na cidade homônima, em 2010, é constituída de um acervo de áudios, imagens e textos que auxiliam, e muito, a compreensão do aluno em relação à matéria.

Leandro Sapiensa usa o futebol brasileiro para contextualizar a matéria estudada (Foto: Dimas Fernandes)

A Dimas cabe usar o contexto histórico das Copas do Mundo como forma de ensinar. Por exemplo: ele mostra e explica as características presentes nos regimes nazifascistas usando o período da Copa de 1934, realizada na Itália, usando propagandas da época do regime como exemplo e recurso de explicação.

Já a Leandro, parceiro de Dimas, cabe desenvolver uma análise histórica do futebol no Brasil, apresentando as relações possíveis entre os recortes históricos selecionados e o esporte, em seus aspectos sócio-culturais e políticos. Ele usa uma abordagem jornalística, com materiais de revistas, jornais e vídeos da época. Acontecimentos como a chegada do futebol ao Brasil, relação do futebol com a ditadura de Getúlio Vargas e até a famosa “democracia corintiana” são usados para ensinar os alunos.
Os dois professores já tiveram apoio do programa “Fanáticos por Futebol”, da Rádio Bandeirantes e, no momento, estão à procura de parceiros e escolas que estejam interessadas em aplicar a Aula de Futebol em suas instituições.
Jornalismo FC entrou em contato com Dimas Fernandes, que explicou um pouco melhor o processo de criação e aplicação da inovadora atividade.

Você confere abaixo a entrevista com Dimas.

JFC: Quando você pensou em criar uma atividade como a Aula de Futebol?

Dimas: No início do ano de 2010, até em função da realização, naquele ano, da Copa do Mundo da África do Sul. Havia interesse, da minha parte e da parte do professor Leandro, de realizar algo na nossa área, a História, que tivesse um quê diferenciado como tema de reflexão. A partir disso, a coisa foi tomando forma e tornou-se no que é hoje.

JFC: Por que, ao idealizar e montar a aula, usou o futebol como forma de contextualizar as matérias que seriam estudadas?

Dimas: Nosso mote era o futebol. O interesse foi gerado em torno disso, em função da última Copa do Mundo. Obviamente, gostamos muito do esporte e somos torcedores assíduos. Talvez, também, isso tenha a ver com nossa “geração acadêmica”, enquanto historiadores oriundos de universidades importantes formados em um período no qual boa parte do preconceito acadêmico contra o “tema futebol” já havia retrocedido muito. Se “tudo é História”, como aprendemos a pensar, por que não o futebol também não é? É, e muito. Penso, portanto, que a melhor resposta para essa pergunta, é a de que a razão básica foi a do encontro entre a oportunidade da ocasião (2010) e a nossa formação como historiadores.

Formato utilizado na apresentação durante a atividade (Foto: Reprodução)

JFC: Em seus vídeos em seu canal no Youtube, é possível perceber que você utiliza muitos recursos audiovisuais nas apresentações. Você considera esses “artifícios” um dos grandes trunfos da atividade?

Dimas: A aula tem duas partes, a minha (o contexto histórico das Copas do Mundo), e a do Leandro (o futebol, no contexto brasileiro), e esses recursos, de forma geral, foram aparecendo – sendo pensados e organizados – para as duas partes. Respondendo essa questão, pensando na minha parte especificamente, eu diria que é um trunfo importante, sim, porém, sem a “transpiração” que foi necessária para contextualizar historicamente as Copas do Mundo que eu escolhi para trabalhar (1930 à 1998), esses recursos de nada serviriam. Eu sou, como historiador e professor, um entusiasta de tais recursos, especialmente na sala de aula, mas só com conhecimento, estudo e formação eles são devidamente preenchidos. No meu caso, quanto à minha parte na aula, aparecem vídeos, áudios (radiofônicos – uma tremenda gentileza do programa, “Fanáticos por futebol”, da Rádio Bandeirantes), imagens e textos, mas, sinceramente, o “trunfo”, mesmo, vem do trabalho historiográfico para montar isso tudo em uma narrativa para a reflexão histórica.

JFC: Você aproveitou o embalo da Copa de 2010, na África do Sul, para lançar a aula no Colégio Atibaia. O resultado foi além do esperado?

Dimas: Sinceramente? Muito além. O entusiasmo que estamos sentindo, em função do interesse do Jornalismo FC em nos ouvir, é parecido ao que sentimos, em 2010, quando o pessoal do “Fanáticos por Futebol” se interessou pela atividade, comentando-a no programa, de forma tão gentil. A reação dos estudantes foi, de forma geral, a melhor possível e imaginável. Tudo, no mais, fez com que os meses de trabalho e pesquisa valessem, muito, a pena.

Dimas, junto com Leandro, deu a primeira Aula de Futebol no Colégio Atibaia (Foto: Leandro Sapiensa)

JFC: Ano que vem teremos a Copa das Confederações e, no ano seguinte, a tão esperada Copa de 2014. Já planejou modificações na aula para adequar-se a mais nova edição do torneio que acontecerá justamente aqui no Brasil?

Dimas: Essa pergunta é muito oportuna. Entendemos que o material que temos, hoje, abril de 2012, está prontíssimo para utilização. Depois da realização, em 2010, demos algumas mexidas, reconstruímos algumas partes, mas mantivemos a estrutura, até pelo resultado obtido. Falando da minha parte, especificamente, gosto do recorte escolhido, em termos das Copas que são trabalhadas, as quais citei anteriormente, e das contextualizações realizadas. Um material novo, por exemplo, pode aparecer (como um recurso audiovisual interessante), mas, em linhas gerais, a atividade está montada e pronta. Aliás, o nosso grande foco é esse mesmo os anos de 2013 e 2014. Até por isso estamos divulgando desde já… Obviamente, isso vale por agora… Muitas Copas virão, e, como disse o historiador e professor Eric Hobsbawn, “enquanto existir raça humana existirá história”. Do futebol, inclusive.

JFC: A aula precisa de quanto tempo para ser completamente finalizada?

Dimas: A atuação completa, com o trabalho dos dois professores em sequência, leva algo em torno de 3 horas. Uma curiosidade, quanto à minha parte, pode ajudar a explicar isso: Utilizo uma camisa para cada Copa ou conjunto de Copas trabalhados. Por exemplo: enquanto falo da Copa de 1950, uso uma réplica da camisa usada pelo Uruguai no famoso Maracanazo. Já com relação à 1974, faço uso da camisa da União Soviética, a famosa com o “CCCP” no peito. Essa eu deixo para os leitores pensarem o por quê. Uma dica: a contextualização histórica é mais das eliminatórias do que da Copa em si. Comprei muitas camisas por conta da aula!

JFC: Se uma escola quiser promover a “Aula de Futebol” a seus alunos, o que ela deve fazer?

Dimas: Podem nos contatar pelo e-mail dfv02@oi.com.br ou por nosso canal de divulgação do projeto no Youtube (www.youtube.com/user/dimasjr100). Nós temos muito interesse em realizar essa atividade, o maior número de vezes possível. Temos a convicção de que, dessa forma, podemos colaborar para a formação histórica de estudantes. Estamos aí, como historiadores e professores, para trabalhar. Por fim, deixo como despedida, algumas palavras roubadas do monumental livro, “Futebol ao sol e à sombra”, do grande uruguaio, Eduardo Galeano: “Uma jornalista perguntou à teóloga alemã Dorothee Sölle: – Como a senhora explicaria a um menino o que é felicidade? – Não explicaria – respondeu. – Daria uma bola para que jogasse.” É isso. Grande abraço a todos!

Para Dimas, a Aula de Futebol no Colégio Atibaia foi um sucesso (Foto: Dimas Fernandes)


Ações

Information

3 responses

17 04 2012
Ivan

Eu estava no colégio este dia, fui aluno destes dois grandes professores, e posso afirmar que foi sim um momento muito útil para entendermos alguns contextos, principalmente no que se remete à realidade brasileiera, da sociedade “futebolística”.

26 04 2012
Wellington Durán

São estes processos criativos que fazem da educação um completo exercício não só de aprendizagem, mas, de reflexão e formação humana, possibilitando ao aluno a construção de um ser formador de opinião e agente multiplicador e facilitador na desenvoltura político social em nossa sociedade, restrita a números e preocupada com o ter, sem sequer abrir os olhos para o ser. Parabéns aos meus amigos educadores Dimas e Leandro pela cativante e ousada forma de relacionar seus alunos de história com o contexto mundial. Tenho orgulho de fazer parte do Colégio Atibaia, que em seu corpo docente agrega educadores de alto nível de conhecimento, cultura geral e atentos ao exercício da cidadania e democracia.

Wellington Durán (Professor e Diretor de Teatro e Cinema no Colégio Atibaia)

17 04 2012
Marina

Essa aula é muito boa! 🙂

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